12 de abril de 2006

medo e o amor

O medo e o amor


Não se trata de qualquer significação complexa como as que podemos encontrar nos dicionários e nos tratados das ciências humanísticas.
Se trata de ter em conta simplesmente o que sentimos quando dizemos "eu tenho medo" e "eu te amo".

Todos, alguma vez o dissemos ou o escutamos. Com essas duas simples frases, cobrimos a maior parte dos sentimentos dos membros de nossa espécie.
Todas as manifestações de cultura tem dedicado ao medo e ao amor infinitas referências, especialmente a arte.

Quem não se identificou com os belíssimos parágrafos de Romeo diante do balcão de Julieta?...Como não entender o medo nos olhos das sabinas ao olhar o quadro onde Jacques-Louis David pintou, maravilhosamente, seu rapto?

Muito mais intimamente, todos temos gravados os sentimentos que aprendemos a desenvolver com os distintos "fantasmas" que a inspiração de nossos educadores nos acercou, com as melhores intenções, para ensinar-nos a tomar cuidado com o perigo.

Mas também aprendemos a sentir agrado pela companhia de quem nos fazia sentir bem, com seus cuidados, aprovações e gratificações de todo tipo.
Aprendemos a ter medo e a amar. Nossa condição de mamíferos nos marcou nos primórdios deste par de sentimentos, pois um bebê nasce tão frágil que só pode sobreviver com a superproteção da mãe.

O cuidado exclusivo da mãe condiciona a vida de seu cachorro e seu abandono, ou qualquer forma de rejeição, é fonte de angústia máxima.
O amor nos salva a vida e a rejeição desata o medo maior; o medo da morte. Talvez isto nos ajude a entender as milhões de macaquices que fazemos desde a infância, e que perduram na vida adulta, com o fim de nos sentirmos queridos.
A indústria da sedução (do latim seduccere: fazer-se amar) é a mais poderosa do planeta.

Buscamos sempre ser queridos. Quando elegemos uma gravata, um perfume, um penteado, uma palavra, um carro, um sorriso. Quando desenhamos uma cena ao entardecer, quando servimos uma taça de vinho, apertamos a mão, roçamos uns lábios ou damos um abraço.

E o medo?...É o que sentimos quando não nos sentimos queridos.
Romeu não tinha medo de subir no balcão; se sentia amado por Julieta. E ela não se importava muito que seus pais descobrissem, pois amava Romeu.

As sabinas do quadro de David mostram o medo em seus olhos, pois sabem, de sobra, que seus raptores, os súditos de Rômulo, não as querem.

O conhecimento dos complicados circuitos com que a vida de cada um tem gravado o medo nos permite proteger-nos ou cuidar-nos de tão desagradável sentimento.

Porém, ânimo!...Se o amor espanta o medo como o alho a Drácula, exploremos também os circuitos que marcam o caminho no qual cada um aprendeu a sentir-se querido.
Ficam subjetivas à inspiração de cada um de nós as distintas formas de acalmar o medo com gotas de amor.

Quando perguntaram a um sábio oriental o que era o medo, imediatamente respondeu: "A falta de amor". E ao pedir-lhe que definisse o amor, replicou: "Não ter medo".

(*por Jorge Brusca é licenciado em Psicologia e cronista do jornal argentino "La Nacion?)

abraços

dr x

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