26 de agosto de 2006

escutar

Aprendendo a escutar


Não há delícia maior do que perceber alguém nos escutando, com toda a atenção. É um prazer encontrar uma pessoa que acompanhe cada palavra do que estamos dizendo e é capaz de nos compreender ? com todo o coração. Se é bom ser escutado, também é ótimo escutar, estar disponível para o outro, com toda a tranqüilidade. ?Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma?, escreveu o poeta português Fernando Pessoa sob o pseudônimo de Alberto Caiero. É isso ? silêncio dentro da alma. Não dá para escutar ninguém se os pensamentos estão nos atropelando sem cessar, se estamos pensando no que temos de fazer daqui a pouco. É preciso estar calmo, aberto, atento ao momento presente para poder ouvir com atenção. ?Escutar é uma experiência transformadora. É testemunhar a existência?, diz o psicólogo e professor paulista Miguel Perosa. Ele garante que aprendemos muito sobre nós mesmos ao ouvir os outros... Quando a gente ouve alguém com atenção, dá o sinal verde para a pessoa se abrir. A relação de troca que se forma então é muito mais rica e profunda... Escutar é mesmo um grande exercício ? que, infelizmente, poucos dominam... Saber escutar é esquecer um pouco de si mesmo enquanto o outro fala. Quem fala demais não deixa o outro falar. E, é claro, não abre espaço para ouvir. Para desenvolver esse silêncio interior, tão necessário para o florescimento dessa arte, existem vários caminhos. Alguns podem aprender a escutar ouvindo com atenção os sons da natureza: o murmúrio de um rio, o barulho da chuva. O compositor carioca Tom Jobim, por exemplo, aprendeu a ouvir com os pássaros. Ele costumava se embrenhar pelas matas brasileiras munido de gravador e flauta transversal. Queria justamente atrair a atenção dos passarinhos para depois escutá-los com calma. Jobim acreditava que as aves emitiam o canto mais sagrado da natureza. Para ele, todas as melodias provinham daquele cantar. Escutar os pássaros, então, funcionava como um exercício de refinamento interior, além de aprimorar o ouvido. Diante deles, a ansiedade desaparecia para dar lugar ao encantamento. Finalmente, conseguia ficar em silêncio, sem dar um pio. E depois aplicava esse aprendizado ouvindo atentamente as pessoas...

(Liane Camargo de Almeida Alves ? Revista Bons Fluídos, Agosto de 2001)

abraços

dr x

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